Texto originalmente publicado em 13 de agosto de 2006
Gênios e rabugentos
Por Rodrigo Marinheiro*
Na Trilogia Tebana, escrita no ano de 247 a.C., Sófocles já alertava a humanidade sobre a enfermidade que seria evitar o novo, evitar o destino. Faz parte da história a destruição dos ídolos de barro, a queda dos fortes, o fim trágico de uma visão doce da realidade que repentinamente se expira. Um passado glorioso não garante nada no futuro se as regras e os limites, ou melhor, o meio em que vivemos, mudar.
Por receio de tocar em problemas emblemáticos de maneira inovadora, o ser humano vai deixando tudo como está. Este desleixo com o novo e a incapacidade operacional nos remetem a uma escuridão egípcia, onde tudo sugere estar perfeitamente no lugar.
Ser um revolucionário, apresentar idéias novas e ter atitudes que quebrem a rotina é uma tarefa árdua, principalmente no campo profissional. Aquele que pretende inovar algo que há anos funciona como paradigma precisa ser mais do que um bom vendedor. É necessário ter a paciência de um monge, explicar tudo de forma lenta e calculada, fazendo com que as perguntas pareçam já respondidas de antemão.
Muito se pede nos cursos de comunicação para que os novos jornalistas evitem o lugar comum. Mas a teoria não funciona na prática. O jornalista que de fato evita o lugar comum se torna persona non grata nas redações e muitas vezes é mandado às favas por não ser um embutido e adquirir problemas jurídicos. Mas o medo de quebrar o paradigma fez com que, por exemplo, o jornalismo fosse pego de surpresa pelas denúncias que deram origem à crise do mensalão.
O jornalista investigativo Greg Palast foi preciso ao parafrasear o também jornalista Gay Talese, autor do livro Fama e Anonimato. Segundo Palast, para quebrar um paradigma o jornalista precisa ser mais do que um serendiptoso (descobrir coisas que não procura), necessita ser adepto do estilo "outsider", ver o mundo com ceticismo, contrariando os cursos ministrados em faculdades e as rotinas das redações que exigem do profissional uma atitude sistemática.
Somente seguindo a linha de raciocínio de Palast alcançaremos a velha máxima dita por Finley Peter Dunne: "a função do jornalista é confortar os aflitos e afligir os tranqüilos".
Desta forma este escriba brasileiro conclui esta poranduba (notícia em tupi-guarani) com a certeza de que nas descobertas existem muitas semelhanças e que aos infligidores dos paradigmas restam os fados de serem considerados por toda humanidade: gênios e rabugentos.
*Rodrigo Marinheiro é produtor do jornalístico Repórter Record da Rede Record de Televisão.
“As opiniões expressas pelo articulista não necessariamente refletem as opiniões da empresa onde ele trabalha.”
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