Dois domingos atrás o crítico de cinema Luiz Zanin Orichio entrevistou, no Caderno 2, do Estado de São Paulo, Beatriz Jaguaribe, que acaba de lançar o livro O CHOQUE DO REAL - ESTÉTICA, MÍDIA E CULTURA. Enquanto elaborava o trabalho, a autora só não imaginava que uma obra de ficção seria lançada na mesma época de seu livro e serviria tão bem para ilustrar suas teorias. Falo do filme TROPA DE ELITE.
Jaguaribe trata basicamente do chamado "realismo estético", cada vez mais presente nas obras de ficção.
Seguem palavras da própria, que sintetizam suas idéias:
"No meu livro, defino o 'choque do real' como sendo a utilização de estéticas realistas que visam a suscitar um efeito de espanto catártico no espectador ou leitor. Este uso do 'choque da realidade' quer provocar o incômodo sem recair, necessariamente, em registros do grotesco ou do sensacionalismo."
Conversando com um amigo que é mestrando em Teologia pela PUC-SP, ele defendeu a idéia de que o fator que torna o filme especial é o dilema humano das personagens, sobretudo do Capitão Nascimento, e que o diretor resolveu contar uma boa história e ponto final.
Acredito que haja algo mais, pois quando se escolhe a história que se vai contar já existe, a meu ver, uma relação mídia e poder. A escolha da estética realista aumenta ainda mais a relevância da relação. Ou teria o filme feito tanto sucesso se tratasse o dilema humano sob outra ótica que não a da ação da polícia no Rio de Janeiro?
Abaixo referência do livro.
Um abraço a todos,
Igor
CHOQUE DO REAL, O
BEATRIZ JAGUARIBE
ISBN: 9788532522078
Editora: EDITORA ROCCO LTDA
Número de páginas: 238
Encadernação: Brochura
Edição: 2007
Um comentário:
Na minha opinião, não acredito apenas na intenção de contar uma boa história. Boas histórias vêm sendo contadas em filmes brasileiros na última década, porém sem a mesma repercussão, muito menos, o mesmo sucesso. Vou além: Tropa de Elite é Capitão Nascimento. Não é a história da corrupção da polícia carioca nem dos tentáculos do tráfico abraçando a sociedade, mas a criação do mito. Este mito foi concebido para representar todo um contexto, sob uma ótica unilateral e, por que não dizer, até meio 'romântica', apesar da truculência das imagens. Além do quê, tem uma cisão maniqueísta estabelecida entre o morro e o que vem abaixo dele. A meu ver, em 'Cidade de Deus' o choque do real obteve mais êxito e, a mim, incomodou muito mais.
Beijos, Thaïs.
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